Rita, aluna do 9º Ano da Escola da Terrugem, Sintra, lendo um dos poemas de Liu Xiaobo, no âmbito da campanha da Amnistia Internacional a favor da libertação imediata e incondicional do Pémio Nobel da Paz de 2010 (foto de Conceição Marques)
Meu amor, o meu cão morreu
(Para o Mindinho)
Meu amor, o meu cão morreu.
Morreu numa tarde após a minha partida.
Morreu sob a fivela do cinto do meu pai.
Morreu sob a mentira vermelha.
Meu amor, o meu cão chamava-se Tigre,
o companheiro mais íntimo da minha infância,
as alegrias e tristezas que partilhámos
ultrapassam de longe tudo o resto.
Naquela tarde, o meu pai inesperadamente
comprou-me um bilhete para o cinema.
O meu pai totalmente devotado à revolução
conseguiu comover-me pela primeira vez.
Esta comoção durou apenas noventa minutos,
a mentira cruel dilacerou-me,
o meu cão morreu.
Morreu sob a primeira emoção do amor paternal.
A sua carne foi dividida com o vizinho,
a sua pele esticada e pendurada na porta da casa.
O Tigre outora vivo
abraçava agora a rígida e fria porta.
O meu cão morreu
e assim murchou a minha infância.
Já podia dirigir-me a este mundo pérfido
com uma única frase: não scredito mais.
http://www.blogger.com/img/blank.gif
Minha querida Xia, conseguirás trazer-me
de volta o meu cão?
Eu acredito: tu consegues.
Certamente consegues. Certamente.
14 de novembro de 1996
WorlWideReading on 20th 2012 - Day of the Political Lie Freedom for Liu Xiaobo
For more information look at www.literatufestival.com
O BLOG19 publicará nos próximos três dias outros três poemas de Liu Xiaobo.
Sem comentários:
Enviar um comentário