segunda-feira, 19 de março de 2012

Leitura de poemas de Liu Xiaobo


Rita, aluna do 9º Ano da Escola da Terrugem, Sintra, lendo um dos poemas de Liu Xiaobo, no âmbito da campanha da Amnistia Internacional a favor da libertação imediata e incondicional do Pémio Nobel da Paz de 2010 (foto de Conceição Marques)

Meu amor, o meu cão morreu

(Para o Mindinho)

Meu amor, o meu cão morreu.
Morreu numa tarde após a minha partida.
Morreu sob a fivela do cinto do meu pai.
Morreu sob a mentira vermelha.

Meu amor, o meu cão chamava-se Tigre,
o companheiro mais íntimo da minha infância,
as alegrias e tristezas que partilhámos
ultrapassam de longe tudo o resto.

Naquela tarde, o meu pai inesperadamente
comprou-me um bilhete para o cinema.
O meu pai totalmente devotado à revolução
conseguiu comover-me pela primeira vez.

Esta comoção durou apenas noventa minutos,
a mentira cruel dilacerou-me,
o meu cão morreu.
Morreu sob a primeira emoção do amor paternal.

A sua carne foi dividida com o vizinho,
a sua pele esticada e pendurada na porta da casa.
O Tigre outora vivo
abraçava agora a rígida e fria porta.

O meu cão morreu
e assim murchou a minha infância.
Já podia dirigir-me a este mundo pérfido
com uma única frase: não scredito mais.
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Minha querida Xia, conseguirás trazer-me
de volta o meu cão?
Eu acredito: tu consegues.
Certamente consegues. Certamente.

14 de novembro de 1996

WorlWideReading on 20th 2012 - Day of the Political Lie Freedom for Liu Xiaobo
For more information look at www.literatufestival.com


O BLOG19 publicará nos próximos três dias outros três poemas de Liu Xiaobo.

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